Minha preocupação inicial não era entender como dentro de um país tão extenso territorialmente como o Brasil, pode existir tanta diversidade sociocultural. Estas comunidades ou micro sociedades existem sob diferentes formas de viver. Mas o que é incrível, contudo, é descobrir que apesar desta diversidade que as tornam distintas, há um fenômeno que as tornam comuns: a invisibilidade.
Descobri já nos primeiros contato com determinadas comunidades da Amazônia, a ausencia de cidadania sob todas as perspectivas que se pode imaginá-la, e sobretudo, que existem autênticos estados de exceção no país.
Sobre a cidadania, sustento que há formas múltiplas de pens-la. Seu conteúdo pode estar justamente na própria sua própria ausência. O vai além do que está previsto em lei.
Nos termos da norma, princípios como o da liberdade e a igualdade formal são descartados numa perspectiva de não emprego dos mesmos, pois se trata de uma liberdade que não permite o acesso, e de uma igualdade que não inclui.
Refletir sobre um projeto de inclusão deve ser à luz da situação dos não incluídos, o que significa o enfrentamento da seguinte discussão: negar o direito, criar novos direitos, ou garantir o direito? Não obstante esta necessidade seja concreta, importa ainda revelar o não direito existente, a face oculta não percebida, e muito embora imaginada, nem sempre é acessível.
Assim, as imagens que apresento são um substrato do universo abstrato que não expressa limites, mas tratam de dimensões exatas. Constituem o sentido de diversidade, mas espeialmnte constituem o sentido de não iclusão, a medida em que não estão inseridos no campo distribitivo da arena política, no campo do humano, na medida ainda, em que recebem um título identitário distinto daquele que comumente chamamos de povo ou nação. São povos das florestas, são ribeirinhos, são populações tradicionais, são um recorte da história, que é recortada da própria história cada vez que são afastados de seu mundo natural. Esta é outra história, e se situa no campo das políticas públicas.
Esta primeira parte, portanto, se constitui de experiências colhidas no interior da selva amazônica no ano de 2007, em 'comunidades fluviais' e 'ribeirinhas' que se distanciam daquilo que comumente entendemos por vida digna.
As similitudes que guardam com o contexto social, em sua forma genérica, não são o documento de identidade ou CPF/MF, pois muitos não os têm. As similitudes que guardam estão na forma de sentir. O que ocorre de forma muitas vezes menos problematizada, o que torna as relações mais duradouras, sem a necessidade de constituírem-se em instituições, pois o lar é a própria instituição que lhes garante a permanência dos laços. Talvez as dificuldades cotidianas os aproximem também, além do que, para sobreviver é preciso estar junto.
As comunidades sempre são destacadas não pelo número de habitantes, mas pelo número de famílias, ou de associações. O que indica uma forma de organização mais democrática. O que os torna não submissos. A submissão quando existe acontece pela necessidade de subsistir, o que normalmente acontece, mas não raro lutam, e esta é sempre a razão da existência do conflito. Lutar para permanecerem juntos. Não se trata apenas de manter-se na terra, mas no espaço que, em regra geral, sempre são seculares.
As 'mulheres e homens das florestas' têm uma vida singular, concreta, e é por isto que as leis, quando não os alcança, perdem o valor. Por isto se tornam abstratas, e fazem o sujeito se tornar abstrato.
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Um companheiro de viagem |
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